No ano passado foi inaugurado o novo aeroporto da maior cidade turca. No entanto, as novidades param aí, já que ele continua com os problemas do antigo Atatürk e ganhou um apelido: “Clipstanbul”.

Fundado em 1912 e homenageando o fundador da República da Turquia, o clássico aeroporto de Atatürk já estava mega saturado. Além de congestionamentos, atrasos e falta de espaço, o aeroporto acumulava um grande número de incidentes de solo, ocasiões em que uma aeronave com intenção de decolar ou logo após o pouso se envolve em um incidente com algum tipo de dano material ao avião, mas sem vítimas.
Dentre os motivos para tal, estava a grande quantidade de posições remotas (não conectadas a pontes de embarque, ou “fingers”) e o elevado número de veículos e pessoas transitando pelo pátio do aeroporto.
Só em 2018 foram três incidentes, sendo um com grandes danos, em que um Airbus A330 da Asiana “cortou fora” o estabilizador vertical de um A321 da Turkish Airlines, durante o taxi – relembre no vídeo abaixo.
Para reverter a situação de quase caos, o governo, liderado pelo então primeiro-ministro e hoje presidente Recep Tayyip Erdoğan, decidiu construir o New Istanbul Airport, muito mais afastado da cidade e com muito espaço: cinco mega-píers com capacidade total para até 150 milhões de passageiros ao ano – o maior do mundo em capacidade atualmente.
Mas nem assim…
Inaugurado em 29 de outubro de 2018 como um “soft-open” (com apenas algumas operações restritas), o novo Aeroporto de Istambul já tem um histórico alarmante: em 10 meses de operação já foram quatro incidentes em solo.
Ao manter esta “tradição”, o aeroporto também herdou um apelido dado pelos entusiastas da aviação: Clipstambul. O apelido é originado das palavras Clip (em inglês, tradução “junção”, mas que significa “batidinha”) e Istambul.

Pode parecer exagerado, mas não é. Como ainda estamos em 2019, não temos dados sobre os movimentos do novo aeroporto, mas considerando o volume de tráfego de 2018, quando o antigo Atatürk transportou 68,1 milhões de passageiros, podemos ter um parâmetro.
E a taxa de ocorrências é alta. Os aeroportos mais próximos em número de passageiros são o de Seul e Dallas que, no mesmo ano, receberam 68,3 e 69,1 mi de pax, respectivamente. O sul-coreano teve seu último incidente em solo registrado em 2016, quando um A330 da Asiana bateu na porta de um hangar de manutenção da companhia. Já o aeroporto texano de Dallas-Fort Worth teve a última ocorrência em 2013, com um McDonnell Douglas MD-82 da American Airlines.
Em 22 de maio de 2019, cerca de um mês após a inauguração, aconteceu o primeiro incidente: o Boeing 777-300ER, matrícula TC-LJE da Turkish Airlines, atingiu um poste de metal quando taxiava próximo à torre de controle. A ponta da asa da aeronave acabou danificada.

Outros dois incidentes aconteceram no fim de agosto, um no dia 30 e outro em 31, ambos envolvendo dois Boeings 737-800 distintos da Turkish Airlines. No dia 30, o 737 de matrícula TC-JHL foi atingido no nariz por uma van enquanto estava parado no “finger”. No dia seguinte, o 737 TC-JHM saiu da pista de táxi após o pouso, ficando preso na terra. As imagens de ambos você confere logo abaixo.
Apesar de a maioria destes incidentes ocorrerem com a Turkish Airlines, não convém associar com a companhia com os fatos, já que é a empresa com mais destinos internacionais no mundo e os problemas só acontecem em Istambul.
Vale citar um de nossos leitores que disse: “muda-se o aeroporto mas não se mudam as pessoas”. Isso vai ao encontro das palavras do editor turco M. Serdar Kuzuloğlu, que estava a bordo do TC-LJE, e tirou a foto do 777 que postamos acima, tendo ironizado a fala do comandante em seu Twitter: “O Comandante Mahmut disse que ‘às vezes acontecem essas coisas na aviação’. Acho que estamos num país super diferenciado”, disse Kuzuloğlu.
Com informações do Aviation Safety Network, Airports Council International e do portal turco Goklerdeyiz.net